Notas sobre "A Banda"
Por Carlos Drummond de Andrade
Texto en español: Sonia Rodríguez MellaSe ha vuelto una costumbre, en estos días, ver pasar a la banda que canta cosas de amor. La verdad es que todos necesitamos amor, una cantidad de amor tal que nos alegre, nos rehumanice, nos corrija, nos dé paciencia y esperanza, fuerza, capacidad para entender, para perdonar, para seguir adelante.
Un amor que se convierta en un barco, una casa, en algo penetrante que nos vacune contra lo malo, lo incorrecto, lo triste, lo feo, lo absurdo y lo que nos toque vivir o presenciar.
La orden, queridos hermanos y desconocidos, es abrir la ventana, y les digo más, abrirla de par en par, y subir a la terraza como hizo el anciano que era débil pero que igual subió, es correr a la calle tras el rastro de los chiquilines, y ver y escuchar a la banda pasar.
Viva la música, viva la fuerza del amor que nos trae la música y la banda, con Chico Buarque de Hollanda al frente, y que restaura en nosotros los palacios hipotecados en ruinas, los jardines pisoteados, las cisternas secas, compensando la confianza perdida en los hombres y sus promesas, la pérdida de los sueños, devastados y determinados por el desamor, que ahora son como un abrigo roído por las polillas, como la piel escarificada de donde la belleza se escapó, el polvo en el aire, en la falta de aire.
La felicidad general con la que fue recibida esa banda, tan simple, tan brasileña y tan antigua en su tradición lírica, que un muchacho de poco más de veinte años la llevó a la calle, alborozando a jóvenes y a ancianos, nos da una idea de cómo estábamos necesitando amor. Pues la banda no viene entonando marchas militares, marchas de guerra. No invita a matar al enemigo, porque no tiene enemigos, ni invita a festejar, con una pirámide de camelias y discursos, las conquistas de la violencia. Esta banda es de amor, prefiere abrir los corazones, con la receta del sabio maestro Anacleto Medeiros*, haciendo penetrar en ellos el fuego que arde y no se ve, la alegría melancólica, el dolor que desatina sin doler, abriendo la herida que duele y no se siente, como explicó un viejo e inmortal especialista portugués en estos temas del corazón.
Ya decidí cuál es mi partido. No es la ARENA** ni el MDB***, soy del partido congregacional y superior a las clasificaciones de emergencia, que encuentra en la banda el remedio, el refugio, la guía, la solución. No responde a cálculos de la conveniencia momentánea, no admite anulaciones ni arreglos para evitarlas, y, básicamente, no es un partido sino un deseo, las ganas de comprender a través del amor, y de amar a través de la comprensión.
Si una banda por sí sola logra que toda la ciudad se engalane y provoca incluso la aparición de la luna llena en un cielo confuso y taciturno, cubierto de signos de amenaza, es porque en esa banda hay una belleza generosa y solidaria, hay una indicación clara para todos los que tienen la responsabilidad de mandar y los que son mandados, para los que están contando dinero y los que no lo tienen para contar y mucho menos para gastar, para los lúcidos y los disconformes, para los vengadores y los resentidos, para los ambiciosos y para todos, pero todos los etcéteras que podría detallar aquí si dispusiera de toda la página. “Cosas de amor” son ofrendas que se brindan a cualquiera que sepa cultivarlas, compartirlas, comenzando por querer que estas florezcan. Y no se limitan al jardincito privado de afectos que cubre el área de nuestra vida privada: abarca el terreno infinito, en las relaciones humanas, en el país como entidad social carente de amor, en el universo-mundo donde la voz del Papa suena como una trompeta distante, llamando al anciano débil, a la muchacha fea, al hombre serio, al farolero… a todos los que vieron a la banda pasar, y por algunos minutos se sintieron mejor. Y si la dicha terminó, después de que la banda pasó, que venga otra banda, Chico, y que nunca una banda como esta deje de musicalizar nuestra alma.
* Drummond de Andrade se refiere a uno de los grandes sonetos del principal nombre de la literatura portuguesa, Luís Vaz de Camões (1524-1580), Amor é fogo que arde sem se ver, é ferida que dói e não se sente (…)
** ARENA: Aliança Renovadora Nacional
*** MDB: Movimento Democrático Brasileiro
El mensaje de este texto me parece tan importante, que decidí ponerle voz, porque hay gente que no puede leer y personas que prefieren escuchar a leer. Espero que lo disfruten y me esforzaré en crecer en la interpretación. :)
Letra de A Banda (Chico Buarque de Hollanda)
Estava à toa na vida
O meu amor me chamou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor
A minha gente sofrida
Despediu-se da dor
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor
O homem sério que contava dinheiro parou
O faroleiro que contava vantagem parou
A namorada que contava as estrelas
Parou para ver, ouvir e dar passagem
A moça triste que vivia calada sorriu
A rosa triste que vivia fechada se abriu
E a meninada toda se assanhou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor
Estava à toa na vida
O meu amor me chamou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor
A minha gente sofrida
Despediu-se da dor
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor
O velho fraco se esqueceu do cansaço e pensou
Que ainda era moço pra sair no terraço e dançou
A moça feia debruçou na janela
Pensando que a banda tocava pra ela
A marcha alegre se espalhou na avenida e insistiu
A lua cheia que vivia escondida surgiu
Minha cidade toda se enfeitou
Pra ver a banda passar cantando coisas de amor
Mas para meu desencanto
O que era doce acabou
Tudo tomou seu lugar
Depois que a banda passou
E cada qual no seu canto
Em cada canto uma dor
Depois da banda passar
Cantando coisas de amor
Depois da banda passar
Cantando coisas de amor
Texto original en portugués
Publicado en Correio da Manhã el 14 de octubre de 1966
Notas sobre A banda
Por Carlos Drummond de Andrade
O jeito, no momento, é ver a banda passar, cantando coisas de amor. Pois de amor andamos todos precisados, em dose tal que nos alegre, nos reumanize, nos corrija, nos dê paciência e esperança, força, capacidade de entender, perdoar, ir para a frente. Amor que seja navio, casa, coisa cintilante, que nos vacine contra o feio, o errado, o triste, o mau, o absurdo e o mais que estamos vivendo ou presenciando.
A ordem, meus manos e desconhecidos meus, é abrir a janela, abrir não, escancará-la, é subir ao terraço como fez o velho que era fraco mas subiu assim mesmo, é correr à rua no rastro da meninada, e ver e ouvir a banda que passa. Viva a música, viva o sopro de amor que a música e banda vem trazendo, Chico Buarque de Hollanda à frente, e que restaura em nós hipotecados palácios em ruínas, jardins pisoteados, cisternas secas, compensando-nos da confiança perdida nos homens e suas promessas, da perda dos sonhos que o desamor puiu e fixou, e que são agora como o paletó roído de traça, a pele escarificada de onde fugiu a beleza, o pó no ar, na falta de ar.
A felicidade geral com que foi recebida essa banda tão simples, tão brasileira e tão antiga na sua tradição lírica, que um rapaz de pouco mais de vinte anos botou na rua, alvoroçando novos e velhos, dá bem a idéia de como andávamos precisando de amor. Pois a banda não vem entoando marchas militares, dobrados de guerra. Não convida a matar o inimigo, ela não tem inimigos, nem a festejar com uma pirâmide de camélias e discursos as conquistas da violência. Esta banda é de amor, prefere rasgar corações, na receita do sábio maestro Anacleto Medeiros, fazendo penetrar neles o fogo que arde sem se ver, o contentamento descontente, a dor que desatina sem doer, abrindo a ferida que dói e não se sente, como explicou um velho e imortal especialista português nessas matérias cordiais.
Meu partido está tomado. Não da ARENA nem do MDB, sou desse partido congregacional e superior às classificações de emergência, que encontra na banda o remédio, a angra, o roteiro, a solução. Ele não obedece a cálculos da conveniência momentânea, não admite cassações nem acomodações para evitá-las, e principalmente não é um partido, mas o desejo, a vontade de compreender pelo amor, e de amar pela compreensão.Se uma banda sozinha faz a cidade toda se enfeitar e provoca até o aparecimento da lua cheia no céu confuso e soturno, crivado de signos ameaçadores, é porque há uma beleza generosa e solidária na banda, há uma indicação clara para todos os que têm responsabilidade de mandar e os que são mandados, os que estão contando dinheiro e os que não o têm para contar e muito menos para gastar, os espertos e os zangados, os vingadores e os ressentidos, os ambiciosos e todos, mas todos os etcéteras que eu poderia alinhar aqui se dispusesse da página inteira. Coisas de amor são finezas que se oferecem a qualquer um que saiba cultivá-las, distribuí-las, começando por querer que elas floresçam. E não se limitam ao jardinzinho particular de afetos que cobre a área de nossa vida particular: abrange terreno infinito, nas relações humanas, no país como entidade social carente de amor, no universo-mundo onde a voz do Papa soa como uma trompa longínqua, chamando o velho fraco, a mocinha feia, o homem sério, o faroleiro... todos que viram a banda passar, e por uns minutos se sentiram melhores. E se o que era doce acabou, depois que a banda passou, que venha outra banda, Chico, e que nunca uma banda como essa deixe de musicalizar a alma da gente.
Fuente: texto en portugués extraído de www.chicobuarque.com.br